As Nações Unidas destacaram a dimensão dos cuidados e apoio às pessoas idosas como tema central a refletir no Dia Internacional para as Pessoas Idosas. O apelo remete para a mudança demográfica que estamos a enfrentar, em resultado da diminuição das taxas de fertilidade e do aumento da esperança de vida, estando, por isso, previsto que “até 2030, (…) a população mundial de idosos ultrapasse o número de jovens e duplique o número de crianças com menos de cinco anos” (ONU, 2024). Portugal é o 5º país mais envelhecido do mundo segundo a OCDE. O desafio demográfico teve e tem um impacto significativo nos cuidados – formais e informais – direcionados para as pessoas idosas, sendo, por isso, central apostar na promoção de um envelhecimento com qualidade e dignidade, protegendo igualmente os que cuidam.
A prestação de cuidados com qualidade é uma preocupação mundial que tem uma dimensão plural e multidimensional, ou seja, investir na área do cuidado implica perceber a sua relação com outras dimensões, como o papel da mulher, a realidade da pobreza, a precariedade laboral, a inclusão dos migrantes, a saúde em geral (com destaque para a saúde mental), a conciliação familiar, a educação, entre outros. O cuidado diz respeito a todos sem exceção e cuidar sem qualquer tipo de suporte ou sem acesso ao mesmo, tem um impacto considerável na vida de quem cuida e na vida dos que recebem os cuidados. Neste sentido, qualquer intervenção nesta área precisa de ser uma intervenção também plural e interdisciplinar.
Cuidar é, em primeiro lugar, um ato de Amor e é fundamental proteger e valorizar o Amor. A este nível destacamos o papel que a educação (na família e nas entidades oficiais como a escola) pode ter na formação dos mais jovens e na passagem de valores como a dignidade, o respeito e amor ao próximo. Estes são valores centrais à vida humana e a sua valorização permite-nos criar sociedades mais tolerantes e respeitadoras de todas as pessoas independentemente da idade. Não podemos esquecer que ainda temos muitas pessoas idosas a viverem sozinhas, muitas ainda vítimas de maus-tratos, e alvo de estereótipos que as reduzem a um papel menor na sociedade. É urgente combater estas situações e a Educação tem um papel central a este nível.
Cuidar é também um Direito humano que precisa de ser protegido e promovido. Enquanto tal é necessário reconhecer que este é também um problema político sendo necessário promover e implementar medidas e ações concretas que visem colmatar as lacunas ainda existentes e os desafios prementes enfrentados pelas famílias, as organizações e profissionais. Sem este equilíbrio entre uma dimensão mais pessoal/familiar e uma dimensão social e económica, não conseguiremos dar conta das necessidades atuais e futuras dos cuidados e a vida das pessoas estará sempre em risco.
É verdade que se multiplicam as estratégias (europeias e nacionais) e os planos nesta área. Mas a mudança ainda não se verifica porque apesar de se considerar que este é um assunto premente, as atenções económicas ainda prevalecem face às sociais e humanas. É urgente colocar verdadeiramente a Pessoa no centro da ação política, da sociedade, da economia. É urgente renovar valores e construir comunidades mais humanizadas que protegem e valorizam as pessoas em todas as fases da sua vida. As pessoas idosas precisam de ser reconhecidas no valor que têm na sociedade em geral, precisam de ser ouvidas e participar no processo de tomada de decisões para que os seus direitos sejam plenamente protegidos.
EAPN Portugal, 1 de outubro de 2024