A EAPN Portugal / Rede Europeia Anti-Pobreza Portugal celebra, uma vez mais, o Dia Europeu da Solidariedade entre Gerações apelando, acima de tudo, à importância de se reforçarem os valores da dignidade, do respeito, do amor ao próximo e da tolerância na sociedade. Todas as pessoas, independentemente da sua idade, devem ser respeitadas na sua dignidade e integralidade. Nunca seremos uma sociedade plena se continuarmos a investir numa cultura do individualismo, na qual os mais frágeis, onde muitas vezes se incluem as pessoas idosas, são colocados de lado, sem conseguirem ocupar um lugar numa sociedade que também é deles e que ajudaram a construir.
É inegável que enfrentamos contínuas barreiras ao envelhecimento saudável e digno. O envelhecimento está envolto num conjunto de estereótipos que atingem profundamente as pessoas à medida que estas envelhecem e que as remetem para um papel secundário em todos os setores da sociedade. As pessoas idosas são as que correm mais riscos numa sociedade cada vez mais digital e tecnológica se não tiverem os meios e os conhecimentos necessários para acompanhar esta evolução. Percebemos que a sociedade corre um sério risco de evoluir num sentido, e retroceder nos valores humanos, na promoção da qualidade de vida das pessoas e no cumprimento e respeito pelos seus direitos. A tecnologia deve estar, em primeiro lugar, ao serviço das pessoas.
No momento da distribuição dos recursos, as pessoas idosas estão sempre em segundo lugar. Olhemos para a situação da prestação de cuidados para percebermos esta realidade. Não basta reforçar a rede de equipamentos dirigidos às pessoas idosas. Precisamos de criar as condições estruturais e humanas para promover a autonomia e a reabilitação das pessoas que recebem cuidados, formar profissionais, constituir equipas multidisciplinares e melhores condições de trabalho e salariais para os que prestam esses cuidados.
Para as pessoas que estão a envelhecer nas suas casas, lidamos com situações de profundo isolamento e solidão que precisamos de combater. As comunidades precisam de ser inclusivas e próximas das pessoas que nelas vivem. Lidamos também com cuidadores que, de forma informal, cuidam dos seus familiares mais próximos, por vezes sem qualquer tipo de ajuda. Precisamos de apostar em abordagens territoriais colaborativas, planos de cuidados individualizados e com recurso a profissionais especializados sempre que for necessário. Precisamos de colocar na prática o que já está escrito em Leis e Regulamentos e precisamos de ser inovadores na construção de novos planos.
Neste Dia Europeu apelamos uma vez mais à importância de se promover a participação das pessoas idosas na sociedade e nas políticas que lhes dizem diretamente respeito. Precisamos de modelos de governação nos quais todos os atores são envolvidos, precisamos de desconstruir os mitos que existem relativamente às pessoas idosas e relativamente ao processo de envelhecimento de forma a pensar políticas verdadeiramente inclusivas de todas as idades.
EAPN Portugal, 29 de abril de 2023
